domingo, 3 de maio de 2015

A difícil arte de preparar um filho para a vida


Em 1976, com 5 anos, recebi de meus pais a informação que começaria minha vida escolar. Não entendia muito bem o que significava. Em um de seus brilhantes atos, efetuaram minha matrícula no pré-primário da Escola Cantinho Infantil (hoje: HEMA). Odiei o uniforme (saia roxa de pregas e avental xadrez branco e laranja). Adorei a escola. Me sentia protegida e desafiada ao mesmo tempo. Meus pais sempre me ensinaram que a vida não é fácil, e que a luta é constante e diária. Tudo é conquistado com esforço e sacrifício.
Em 1977, já no primeiro ano, surgiram minhas primeiras dificuldades. Com uma irmã pequena em casa, não queria mais ir para a escola. Queria ficar com ela o tempo todo. Hoje, lembro dando muitas risadas, o que eu fazia com minha mãe e com a “Tia” Jara (que era a minha educadora e que me alfabetizou). Minha mãe me levava à escola no último minuto, com o sino quase batendo e o portão fechando, e a “Tia” Jara me recebia no portão e já o fechava logo em seguida. Eu entrava todos os dias chorando, aos berros. Depois que entrava, a única coisa que me restava era me acalmar e aprender. No final do ano veio a resposta do esforço, ao receber o primeiro boletim na Biblioteca Riograndense, quando obtive o primeiro lugar da turma. Tempos depois descobri que minha mãe saía da escola todos os dias chorando por me deixar naquela situação. Mas era necessário. Faz parte da arte de criarmos os filhos para o mundo. Sabia que eu estava bem cuidada, e que não se pode fazer tudo o que os filhos querem, pois nem sempre é o melhor para eles.
E se ela tivesse me atendido? (Eu nem quero imaginar o que seria de mim hoje). Talvez tivesse sido mais fácil para ela e para a “Tia” Jara, mas quem disse que a vida é fácil?
E ainda tinha a “Tia” Hebe, que enfileirava as turmas no pátio para dar “sermão”. E na saída da escola tínhamos que ir para casa tirar o uniforme, para depois podermos passear. O uniforme era sagrado, e ai de quem estivesse no calçadão passeando de uniforme e fosse visto pela “Tia” Hebe!! E nos perguntávamos: Porque aqui na escola temos que passar por isso, e em outras escolas é tudo mais fácil? Hoje sei a resposta: Porque no nosso Cantinho Infantil, a educação era constante. A escola não se preocupava só em ensinar conteúdo. A preocupação fundamental era a formação completa do aluno. Não tínhamos professoras, tínhamos educadoras.
E em 2004, quando eu engravidei, novamente começam as escolhas. A primeira foi decidir  o nome. Se fosse menina o Alexandre (pai) já tinha escolhido que o nome seria Sofia. Se fosse menino eu escolheria. Quando descobrimos que eram gêmeas, mais uma escolha, o segundo nome: Laura.
Outra escolha, desta vez mais fácil, foi a escola que frequentariam. E o Cantinho Infantil, que foi renomeado para Escola HEMA, foi nossa decisão unânime. Uma escola que respeita as individualidades de cada pequeno, mostrando a eles que todos devem ser respeitados, e que se preocupa com a formação do cidadão, sem se limitar a transmitir conteúdo.
E assim, os pais enfrentam mais uma dificuldade. Impor o limite de até onde podemos interferir no cumprimento de uma tarefa e a partir de onde deixarmos por conta dos pequenos. Sempre digo paras meninas: “O tema é de vocês. Contem comigo para ajudá-las, mas a minha parte é só esta. Ajudar, e não fazer”. Creio que só assim vou incentivá-las a lutar pela vida, para serem pessoas do bem. Estou fazendo o certo? Não sei. Mas quem disse que a vida é fácil?
Tenho a certeza de ter feito a escolha certa. Tenho a tranquilidade de deixar meus bens mais preciosos na mão de pessoas competentes e responsáveis. E ainda tenho a felicidade de saber que posso sempre contar com as “Tias” Mônica, Telma e Jara, que estão sempre “salvando” a duplinha, que vira e mexe esquecem de algo em casa. No momento de uma dificuldade, minhas filhas sabem que encontrarão o apoio necessário.

Na difícil arte de preparar um filho para a vida, cabe aos pais fornecer todas as ferramentas para esta formação. Uma boa escola, um constante acompanhamento nas tarefas de casa e oportunidades de crescimento são fundamentais para a formação de indivíduos responsáveis e comprometidos. E é enfrentando pequenas dificuldades, que nossos pequenos terão força, segurança e maturidade para enfrentar as dificuldades que a vida com certeza vai lhes apresentar. E nós, como educadores (pais e professores) poderemos com orgulho dizer: “Fizemos nossa parte !!!!”.

Danielle Loureiro da Cruz
mãe da Laura e da Sofia
6. ano - Grupo Bixcoito

5 comentários:

  1. Danielle adorei ler seu post. E saber que seu caminho estudantil passou pelo cantinho infantil me deixa mais contente que estamos fazendo um trabalho bom no Hema. Suas filhas são ótimas e só comprova que a família participativa e ativa na educação faz a diferença. Muito obrigada pela sua publicação no nosso projeto. Estamos esperançosas que teremos bons frutos. Que continue a discussão sobre o tema EDUCAÇÃO-FAMÍLIA-ESCOLA. :)

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  2. Oi Danielle! Também gostei muito de ler a sua postagem e de saber da tua contribuição para o projeto do blog. Acredito que uma educação de qualidade só é possível quando conseguimos ter a família e a escola agindo em conjunto. Sou muito grata por poder compartilhar com as meninas e todos os demais alunos da escola Hema, aprendizados e saberes, construindo significados e ajudando a consolidar a formação de todos eles.
    Abraços da prof Cris

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  3. Dani...Adorei o post e não poderia esperar outra coisa vinda de ti, mãe dedicada que passa muita segurança para suas filhas, as quais são maravilhosas...Fazer escolhas para nossos filhos requer uma responsabilidade enorme e isso faz com que a cada dia busquemos ainda mais desafios para nós....Obrigada por ter dedicado um pouquinho do teu tempo para enriquecer ainda mais o nosso blog. Beijão Aline.

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  4. Ainda não dei aula para as tuas pimpolhas,mas sempre ouço falar muito bem delas, apesar de conhecê-las desde que nasceram, ou melhor antes de nascerem. Parabéns pela linda postagem.
    Abraços.

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  5. Obrigada Dani pela confiança que depositas na nossa escola,tenho o privilégio de trabalhar bastante tempo com as meninas que são ótima alunas, estudiosas e dedicadas nos estudos, realmente a família participativa faz toda diferença.Amo-as!!!! Bjus!!!!!!!!!
    Telma Joana

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