sexta-feira, 15 de maio de 2015

A trajetória do meu ensino como surda...

Sou Cássia Marins, mãe da Luísa que cursa o sexto ano. Nasci surda, porque minha mãe teve rubéola no primeiro trimestre da gestação. Quando eu tinha cinco anos entrei na Escola Especial Professor Alfredo Dub, em Pelotas. Lembro-me que quando entrei na escola era tímida, porque não conhecia ninguém e não tinha amizade com os colegas surdos. Mas, aos poucos, isto foi superado e fiz muitos amigos. Também comecei a aprender a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), uma língua expressiva e espacial, juntamente com a língua oral, o que foi muito difícil! Sempre admirei uma grande companheira e professora surda que tive nessa escola. Brincava e jogava futebol com os meus amigos surdos. Eu era muito agitada e feliz! Nessa época a minha experiência escolar foi prazerosa! Sou bilíngue, isto é, uso LIBRAS e Língua Portuguesa. As Línguas de Sinais são as línguas naturais das comunidades surdas. Ao contrário do que muitos imaginam, as Línguas de Sinais não são simplesmente mímicas e gestos soltos, utilizados pelos surdos para facilitar a comunicação.
E na quarta série, fui transferida para outra instituição particular de ouvintes em Rio Grande, onde estudei até a oitava série, depois cursei o ensino médio em outra instituição particular. Percebi que eu era diferente e, de fato, me sentia assim, o que aumentou ainda mais minha timidez. Depois de várias dificuldades, comecei a fazer contatos com meus colegas, tive que oralizar e usar os gestos, mas foi difícil! Minha vida mudou radicalmente, precisei aprender a me defender a fim de me adaptar a estas escolas.
Atualmente, a maioria dos surdos usa Libras, não oraliza, mas eles podem escolher.
Quando cursei pedagogia na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), tive  intérprete de Libras, o que facilitou a comunicação dentro da sala de aula e também em outros lugares dessa instituição. Fui a primeira aluna surda da FURG e agora têm mais alunos surdos ingressando... vejo como mudou a maneira de pensar dos educadores, mas ainda podem melhorar muito. Também cursei Letras – Libras no pólo da Universidade Federal de Santa Maria. Atualmente, sou professora de Libras na FURG. Acabei meu mestrado neste ano e pretendo fazer doutorado.
Vejo na Escola Hebe Marsiglia (HEMA), uma escola de braços abertos... onde as diferenças servem para unir alunos e professores, construindo um futuro melhor.

Cássia Lobato Marins.

Mãe da Luísa Marins, Sexto Ano.

6 comentários:

  1. Que maravilha ler esse relato Cássia. Também percebo, com muita alegria, que a escola está aberta à acolhida das crianças, sem distinção (o que infelizmente não é uma realidade em muitas escolas de Rio Grande, especialmente nas particulares). Já trabalhei em duas escolas particulares e percebia o quanto a inclusão, em alguns casos, estava distante de se fazer presente nesses espaços. Fica aqui o registro da minha satisfação em ver que minha filha convive com a pluralidade, desmistificando os preconceitos ainda tão presentes no mundo em que vivemos e aprendendo a ser um sujeito de fato humano, com uma educação que instigue a transformação social que tanto buscamos na nossa trajetória enquanto mães e pais.

    Lisiane Claro - mãe da Ana Luiza C. Claro Xavier - Ed. Infantil II

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  2. Linda postagem.Ela nos serve de estímulo, já que lutamos contra as desigualdades escolares. Parabéns pela tua luta e certamente tua filha tem muito orgulho de ti.
    Professora Marcia Oliveira - Língua Portuguesa

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  3. Muito emocionante o depoimento da mãe da Luisa. como é importante nos sentir acolhidos no ambiente escolar desde o inicio da nossa caminhada. Fico muito feliz de ter escolhido a escola HEMA . Mãe do Bernardo, 6º .

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  4. Cássia, fico muito feliz com teu relato. Sinto-me gratificada por trabalhar em uma escola que é acolhedora e inclusiva. Conviver com o diferente ajuda na formação de todos nós. Parabéns pelas tuas conquistas e certamente és um grande orgulho para a Lulu.
    Prof Cris

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  5. Fiquei muito emocionada pois assim como você eu também tenho uma deficiência.... Parabéns

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  6. Fiquei muito emocionada pois assim como você eu também tenho uma deficiência.... Parabéns

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